A “fome” ainda é uma realidade presente na vida de muitas famílias brasileiras. Conforme a
Organização das Nações Unidas (ONU), fatores como crises econômicas, mudanças climáticas e
os efeitos da pandemia da Covid-19 foram determinantes para o aumento da Insegurança
Alimentar nos últimos ano. A insegurança alimentar é definida pela ausência do acesso regular
e permanente a alimentos em quantidade e qualidade suficiente para sua sobrevivência,
segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), e é
dividida nos níveis leve, moderado ou grave.

A segurança alimentar e o direito à alimentação estão previstas na Constituição Federal e
endossados na lei 11346 de 15/09/2006 e determinam que todas as pessoas tenham acesso
físico e econômico a alimentos suficientes, nutritivos e seguros para atender às suas
necessidades dietéticas e preferências alimentares, com disponibilidade, acessibilidade,
qualidade e adequação dos alimentos.

Diante deste estigma, o Programa Ceará sem Fome tem sido um sinal de esperança na vida
de centenas de famílias em todo o estado do Ceará. Criado pelo Governo do Estado por meio
da Lei 18312 de 17/02/2023, o Programa busca promover mais acesso das pessoas à
alimentação saudável e nutritiva, a segurança alimentar e nutricional da população, por meio
de políticas públicas e do engajamento da sociedade civil para combater a fome de famílias em
situação de pobreza e extrema pobreza.

No território de atuação da Cáritas Diocesana de Tianguá, entre os meses de outubro de 2023
e março de 2024 foram entregues 555.115 refeições a 4.700 pessoas, um número expressivo
que representa além do acesso a alimentação saudável, diversa e de qualidade, a redução nos
gastos com alimento e consequentemente, um alívio na condição econômica de inúmeras
famílias. As refeições foram produzidas em 47 Cozinhas Solidárias distribuídas em
comunidades rurais e urbanas de 14 municípios. As cozinhas têm conseguido alcançar as
vulnerabilidades mais profundas da comunidade, garantindo que aqueles que mais precisam
tenham acesso a uma refeição nutritiva e a dignidade.

Findado a primeira etapa do programa foi realizado uma pesquisa de avaliação com os
beneficiários atendidos pelas cozinhas geridas pela Cáritas nos municípios de e Barroquinha,
Uruoca, Martinopole, Granja, Chaval, Viçosa do Ceará, Tianguá, Ubajara, Ibiapina, São
Benedito, Guaraciaba do Norte, Carnaubal, Croatá da Serra e Ipu. O objetivo desta avaliação é
fornecer uma análise detalhada do impacto do programa na comunidade e nas famílias
atendidas, identificando fortalezas, desafios e oportunidades de melhorias na vida das
pessoas. A avaliação foi realizada por meio de uma combinação de métodos quantitativos e
qualitativos. Foi coletados dados sobre o número de usuários atendidos, perfil socioeconômico
e sobre as contribuições destes.

Destacamos os seguintes resultados:

• Quanto ao sexo dos beneficiários: 79,3% são mulheres e 20,5%, homens;
• Quanto à cor: 74,4% pardos, 12,1% brancos, 9,2% pretos;
• Onde residem: 59,4% zona urbana, 38,5% zona rural, 1,7% território indígena;
• Sobre escolaridade: 48,8% estudaram até o ensino fundamental, 3,7% possuem ensino
  superior e 8,6% são analfabetos;

Perguntados sobre como avaliam a atuação da cozinha solidária, 73,8% dos beneficiários
classifica a atuação da cozinha solidária como “ótima”. Isso sugere que a maioria dos usuários
está satisfeita com os serviços oferecidos. 22,8% dos beneficiários avaliam a atuação da
cozinha solidária como “bom”, e 3,4% dos beneficiários classificam a atuação da cozinha
solidária como “regular”. Essa minoria pode representar uma oportunidade de investigação
mais aprofundada para identificar áreas específicas de melhoria ou preocupações que
precisam ser abordadas para melhorar a qualidade e a eficácia dos serviços prestados.

Sobre a qualidade dos alimentos oferecidos a pesquisa aponta que 68,6% dos respondentes
classifica a qualidade dos alimentos como “ótima”, esse resultado indica um alto nível de
satisfação com os alimentos oferecidos, sugerindo que estão atendendo às expectativas e
padrões de qualidade esperados. 26% dos respondentes avaliaram a qualidade dos alimentos
como “bom” e 5,5% dos respondentes consideram a qualidade dos alimentos como “regular”.
Essa minoria de avaliações pode representar uma área de preocupação que merece atenção
adicional para identificar possíveis deficiências na oferta de alimentos e implementar medidas
corretivas, se necessário.

Quanto à satisfação acerca da variedade de alimentos, 96,9% dos beneficiários demonstra
satisfação em relação à variedade de alimentos oferecidos. Este dado reflete diretamente a
eficiência e o cuidado na seleção dos alimentos disponibilizados, visando atender às
preferências e necessidades nutricionais da comunidade atendida.

Perguntados sobre o acesso à cozinha solidária, 90,8% dos beneficiários afirmaram que não
enfrentam dificuldades de acesso à cozinha para receber a refeição. Isso indica uma
infraestrutura eficiente e acessível que permite que a maioria dos indivíduos receba o apoio
alimentar sem obstáculos significativos. No entanto, é importante destacar que 9,2% dos
beneficiários relatam encontrar dificuldades no acesso à cozinha para receber a refeição. Essas
dificuldades podem variar desde questões de transporte até restrições de mobilidade ou
localização geográfica desfavorável.

Uma questão de extrema importância é saber o quanto o programa tem impactado
positivamente na vida das pessoas atendidas, neste sentido, 98% dos beneficiários afirmaram
que percebem melhorias em suas vidas desde que começaram a participar do projeto da
Cozinha Solidária. A melhoria econômica é o grande destaque, muitos relataram que ao
receber as quentinhas, conseguem economizar nos gastos do mês e que sobra um pouco
para investir em outras necessidades, como a compra de material escolar ou itens da casa,
além disso, sobra mais tempo para cuidar das crianças, economiza no gás, dá tempo até de
cuidar um pouco mais da beleza e saúde, a exemplo de crianças e adultos que ganharam
peso e de pessoas diabéticas que agora conseguem ter uma alimentação mais regulada.

Outra pergunta relevante foi sobre o acesso a outros serviços públicos a partir da participação
no Programa Ceará sem Fome, quanto a isso, 41,7% dos beneficiários conseguiram realizar o
cadastro único, um passo essencial para acessar uma série de programas sociais e benefícios governamentais. 12,5% foram direcionados aos CRAS (Centros de Referência de Assistência
Social), onde puderam obter apoio e encaminhamento para diversas necessidades sociais,
como assistência familiar, encaminhamento para cursos profissionalizantes, entre outros. 1,1%
foram encaminhados aos CREAS (Centros de Referência Especializados de Assistência Social),
que oferecem atendimento especializado para situações de violação de direitos, como
violência doméstica, abuso infantil, entre outros. 2,7% puderam obter serviços de
identificação, um passo crucial para acessar uma série de outros serviços governamentais,
como emissão de documentos, benefícios sociais, entre outros. 2,2% foram auxiliados na
obtenção do CPF, documento fundamental para uma série de atividades civis, como abertura
de contas bancárias, obtenção de empregos formais, entre outros.

Esses números destacam a importância não apenas de fornecer alimentação básica, mas
também de criar uma rede de suporte abrangente para ajudar as pessoas a superar outras
dificuldades e vulnerabilidades. O Programa Ceará Sem Fome está desempenhando um papel
crucial na construção de uma sociedade mais inclusiva e resiliente, proporcionando não
apenas alimentos, mas também acesso a uma gama de serviços que promovem o bem-estar e
a dignidade de todos os cidadãos.

Perguntados sobre a satisfação quanto à atuação da Cáritas de Tianguá nas cozinhas, 96,5%
classificaram como ótimo ou bom, o que sugere que a Cáritas Diocesana está de fato
desempenhando um papel eficaz no apoio e na supervisão da Cozinha Solidária, garantindo
que os serviços oferecidos atendam às necessidades e expectativas dos beneficiários.

No entanto, é importante notar que 3,2% dos beneficiários classificaram o acompanhamento
como “regular”. Isso pode indicar áreas onde melhorias são necessárias, seja em termos de
comunicação, qualidade dos serviços ou outras questões relacionadas ao funcionamento da
Cozinha Solidária.

Em seis meses de atuação da primeira etapa, o Programa Ceará sem Fome demonstrou um
impacto significativo na comunidade, fornecendo uma fonte crucial de alimentação para
indivíduos e famílias em situação de vulnerabilidade. Os dados indicam um amplo alcance do
programa, com um número substancial de usuários atendidos diariamente em várias
localidades da área de atuação da Cáritas Diocesana de Tianguá. A qualidade das refeições
oferecidas recebeu avaliações positivas da maioria dos beneficiários, destacando a importância
da nutrição adequada e da diversidade alimentar.

Algumas questões emergiram durante a avaliação, incluindo a necessidade de garantir a
sustentabilidade do programa a longo prazo e a melhoria da infraestrutura das cozinhas para
melhorar a eficiência operacional. O Programa Ceará sem Fome, sob a gestão da Cáritas
Diocesana de Tianguá, desempenha um papel crucial no fornecimento de refeições diárias
para indivíduos necessitados na região. Apesar dos desafios identificados, os resultados desta
avaliação destacam a importância contínua do programa e a necessidade de apoio contínuo
para garantir seu sucesso e sustentabilidade a longo prazo.